Tema: Liberdade e Aceitação na Escrita Com o Autor Leblon Carter
Maselha Alves: Olá Leblon Carter, desde já agradeço por participar do projeto do escritores do amanhecer Estrela de Conteúdo e hoje falaremos sobre Liberdade e Aceitação na Escrita. Enfim, como os livros LGBTQI+ têm sido umas das leituras em que mais sofre preconceito literário, como autor como se sente em relação a isso?
Leblon Carter: O movimento LGBTQI+ tem crescido exponencialmente na sociedade e isso reflete na literatura. Sim, ainda temos muitos obstáculos para superar e atualmente lidamos com um preconceito velado com essas histórias. Muitas vezes precisamos nos mascarar em outros gêneros, como fantasia, suspense ou drama, para apresentar a diversidade de uma forma que o leitor se sinta confortável com a leitura ao mesmo tempo em que aprende sobre as diferenças.
Maselha Alves: Muitos dos escritores desejam escrever livros deste tipo, mas a opressão e o que as pessoas vão achar fazem com que eles desanimam, inclusive havia um colega meu quando estudei que escrevia livros assim, mas não compartilhava porque as pessoas já julgavam dele ser assim, a luta por isso é cotidiana e por muitas vezes eles querem mostrar o seu trabalho, porém sempre há um impedimento. Por acaso já pensou? Sofreu algo assim? Se sim, nos compartilha para ajudar os escritores.
Leblon Carter: Histórias LGBTQI+ precisam ter um público diversificado, e não apenas pessoas do próprio meio. O que acontece é que o brasileiro não tem uma taxa muita alta de leitura, o que também reflete nas minorias. E talvez esse seja um dos motivos de escritores evitarem começar com um grande romance homossexual e preferirem algo mais sútil e disfarçado. Até porque esse é um dos problemas que encontro em divulgar um dos meus romances gays pois a falta de público e interesse da própria comunidade interfere e muito nisso.
Maselha Alves: Continuando o assunto acima, percebendo a situação cheguei a ele e falei que podia me compartilhar e quando li as cenas, o livro era tudo o que ocorria no dia a dia dele como também no colégio, isto me fez pensar "Porque é tão difícil para estas pessoas falarem do que sentem? O medo e a pressão é tão fortemente?" E assim me vem esta pergunta para ti, os seus livros tem o intuito de ajudar a eles ou elas acerca disso?
Leblon Carter: Muitos escritores LGBTQI+, inclusive eu, começam escrevendo sobre experiências que tiveram como uma forma de desabafo para o mundo. Nem sempre as pessoas ao nosso redor estão dispostas a nos ouvir, por isso procuramos meios de nos expressar. A escrita se torna nosso diário pessoal. Por isso em todos os meus livros, contos e narrativas procuro mostrar que a sexualidade, independente de qual seja, deve ser respeitada e representada de uma forma que nos faça sentir orgulho de quem somos.
Maselha Alves: Muitos obtém a liberdade da escrita, mas quando se trata disso as pessoas querem esconder como se não houvesse, mas a cada dia a persistência vem e derruba toda as barreiras que impedem de se expressar livremente, certo? Para ti o que é a liberdade da escrita? Como se sentir livre para escrever, mostrar sua ideia, sua história, sua mensagem independente do que vier?
Leblon Carter: Acredito que a liberdade de escrita é o poder que nós temos de representar qualquer aspecto da realidade. Existem coisas leves, como romance na adolescência, separação de casamento e clichês escolares. Mas também temas pesados como estupro, violência física e aborto. Nós, como escritores, temos liberdade para escrever sobre cada uma dessas coisas, mas com a consciência de que palavras tem poder e podemos acabar machucando ainda mais uma pessoa fragilizada. Então, é preciso estudar o tema e se aprofundar antes de escrever algo raso e sem superficialidade apenas por entretenimento.
Maselha Alves: Como foi o seu processo da escrita nesta área?
Leblon Carter: Natural. Nunca me vi escrevendo romance porque comecei na fantasia. Mas acabou acontecendo de forma espontânea porque a história surgiu de coisas que aconteceram comigo na vida real, o que me motivou bastante a escrever.
Maselha Alves: Parte, cena ou trecho do seu livro que te marcou? E que deseja transmitir para todos?
Leblon Carter: “Amor é o sentimento mais puro que existe. As pessoas não deveriam sofrer por ele. Principalmente quando você não tem culpa de amar. Mesmo o “amor” sendo uma palavra muito forte. Paixonite é algo mais plausível e menos constrangedor para se contar aos amigos. Crush todos tem. Alguns são mais fortes do que outros. Mesmo que no final todos se tornem apenas lembranças de épocas de nossas vidas. Boas ou ruins.”
Maselha Alves: Como começou a escrever seus livros?
Leblon Carter: Comecei com meu livro de fantasia em 2015. Sempre gostei muito de universos mágicos, aventuras e, principalmente, Harry Potter. Eu pesquisei durante 3 anos antes de poder finalmente começar a escrever porque queria ter todo o projeto traçado antes do início. Já meu romance LGBTQI+ surgiu graças a uma paixão que vivi durante uma época em que trabalhei em um cinema e a história gira em torno disso e do protagonista, que também é escritor, em vencer um concurso de Nova Iorque.
Maselha Alves: Como foi a aceitação da sua escrita?
Leblon Carter: Rápida. Nunca tive problemas com isso. Me assumi cedo, com 14 anos, e sempre enfrentei o preconceito de frente. Nunca abaixei a cabeça. Então se tornou natural representar isso nas minhas histórias.
Maselha Alves: Para finalizar, me diga como luta todos os dias? Os livros? Em tudo.
Leblon Carter: Olha, é uma batalha difícil (risos). Não tem um dia em que eu não pense em desistir por causa das dificuldades, que não são poucas. Tenho um emprego normal de domingo a domingo para conseguir investir nos meus projetos, estudo artes gráficas e ainda tem a escrita que toma todo meu tempo livre. Mas, quando paro para pensar, não tem mais nada que eu queira fazer se não tiver a literatura na minha vida. Nada mais faz sentido. Não poder me expressar através das palavras, fazer com que as pessoas se sintam confortáveis com quem são ou apenas criar um mundo fantasioso para que a gente escape da realidade. Sinto que todos nós nascemos com um objetivo e o meu é mudar o mundo com as minhas palavras. E, mesmo que não consiga mudar o mundo todo, que ao menos possa mudar o mundo de algumas pessoas. Sou grato a isso!
Maselha Alves: Muito obrigado por ter participado desta entrevista, saiba que ajudará diversos escritores e é muito importante conhecermos sobre esta área, sobre a aceitação, a liberdade e a luta que ocorre a cada dia.
Escritores Do Amanhecer não é somente mostrar a escrita e sim o nascer de muitas histórias.
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